5.5.12

AS VIRTUDES CARDEAIS - 1/2


AS VIRTUDES CARDEAIS
Catecismo de São Pio X.

Ao ler e conhecer como a Fé, a Esperança e a Caridade, asvirtudes teologais, nos tornam capazes de conhecer e amar a Deus. Elas são virtudes inteiramente voltadas para Deus.

Mas existem muitas virtudes que não são voltadas diretamente para Deus, mas sim para o nosso comportamento, nossa atitude, nossas ações;elas nos ajudam a bem agir, a fugir do pecado, a vencer as tentações. Por isso, indiretamente, elas nos levam a Deus. São as virtudes morais, ou seja, virtudes que nos ajudam a bem agir.

Quatro delas são mais importantes do que as outras porque regulam a atividade de todas as demais. São as chamadas virtudes cardeais. Por que esse nome?

Cardo, em latim, quer dizer dobradiça, eixo em torno do qual gira alguma coisa. No caso da dobradiça, gira a porta, no caso do eixo da terra, giram os quatro pontos cardeais. No caso das virtudes, em torno das quatro virtudes cardeais, giram as outras virtudes, como veremos adiante.

Quais são estas virtudes cardeais? 

A Prudência, a Justiça, a Força e a Temperança
Vamos começar estudando cada uma dessas quatro virtudes cardeais, depois veremos as outras virtudes morais.


A VIRTUDE DA PRUDÊNCIA.


Prudência é a virtude que nos ajuda a escolher. Não se trata de escolher coisas fúteis e bobas. A Prudência nos ajuda a escolher os meios adequados para realizar o bem e vencer o mal. É uma escolha muito importante e que a qualquer momento precisamos fazer.

Vou estudar ou vou brincar? Depende da hora! Se for hora de estudar, vamos estudar, se for hora de brincar, vamos brincar. É a Prudência que nos ajuda a compreender essas coisas. Ela aproveita a hora propícia, o lugar acertado onde devemos estar e nos impede de tomar decisões precipitadas. O lema dela é: fazer o que é certo, na hora certa, no lugar certo.
A Prudência, iluminada pela nossa Fé e ajudada pela graça santificante, nos leva a escolher os atos bons que são o caminho da nossa salvação.

É sobre esta Prudência que Jesus fala no Evangelho: «Eis que vos mando como ovelhas no meio de lobos. Sêde, pois, prudentes como a serpente e simples como as pombas.» (Mt. 10, 16) e também:«Quem julgas que é o servo fiel e prudente, a quem o seu senhor constituiu sobre a sua família, para lhe distribuir de comer a tempo?» (Mt. 24, 45).

O pecados contra a prudência.

Mas, como o contrário da virtude é o vício, podemos pecar contra a Prudência de dois modos:

1 - Por falta de prudência - é o vício da imprudência, que pode ser por: precipitação - agimos sem refletir ou descuido - refletimos no que vamos fazer mas fazermos mal feito.

2 - Por excesso de Prudência – astúcia: ser prudente no mal, nas coisas erradas, no pecado; – cuidados excessivos com a vida material: dinheiro, vaidade, comprar muitas coisas, etc.


A VIRTUDE DA JUSTIÇA.


Deus entregou a terra a Adão para que ele e seus filhos a plantassem e tirassem dela o seu sustento. O homem usou e usa as coisas da natureza para comer, para vestir, para fabricar objetos necessários à sua vida. Como filhos de Deus e tendo recebido a terra como herança, os homens podem possuir suas coisas, sua terra, sua casa, seus objetos, que lhe são necessários para viver e para alimentar sua família. É fácil compreender que nem sempre haverá um acordo entre os homens sobre a possessão desses bens materiais.

Para ajudá-los a viver em paz e a possuir com boa medida o que lhes é necessário, Deus nos deu a virtude de justiça, pela qual nós queremos, com nossa boa vontade, dar aos outros o que lhes é devido, protegendo também o que nos pertence e, sobretudo, dar a Deus o que Ele nos pede, no seu amor por nós: amor, dedicação, louvor, etc.

Vamos ilustrar o que dissemos com alguns exemplos:

Quando tomamos emprestado um objeto, a virtude da justiça nos leva a querer devolvê-lo no tempo estipulado, pois sabemos que a pessoa que nos emprestou pode ficar prejudicada se não recebê-lo de volta.

Quando compramos um objeto, é justo que paguemos o seu valor.
Quando assinamos um contrato com alguém, devemos cumpri-lo (como o matrimônio é um contrato passado diante de Deus, a virtude da justiça nos impede de querer nos separar, pois no contrato do matrimônio aceitamos viver para sempre com a pessoa com quem casamos.

Porém, não basta que os homens tenham entre si esse relacionamento de justiça. A vida na sociedade é muito complicada e foi preciso se organizar um governo que ajudasse os homens a viverem juntos numa mesma cidade, num mesmo país.  Por isso, a virtude da justiça vai também atuar no relacionamento dos homens com o governo, quer ele seja um prefeito, um guarda de trânsito, o presidente ou um rei. Os homens devem obedecer às leis estabelecidas pelas autoridades, enquanto que a autoridade deve atuar de forma igual para com todos, ajudando os bons e castigando os maus.

É a virtude da justiça que forma as bases do 7°, do 8° e do 10°mandamento da Lei de Deus. Não podemos furtar, nem levantar falso testemunho, nem cobiçar as coisas alheias, pois todos esses atos ferem a virtude da justiça, entre outras.

Devemos também considerar que quando cometemos um pecado contra a virtude da justiça, em certos casos, não basta o arrependimento e a confissão. Nós lesamos o próximo tirando dele um bem material que lhe pertence. Devemos, então, fazer o possível para devolver aquele bem, de modo a restabelecer a justiça ferida pelo nosso ato.  É o que se chama derestituição. Igualmente, quando pecamos contra o 8° mandamento, devemos retratar a reputação do próximo ferida por nossa mentira, calúnia ou maledicência.


A VIRTUDE DA FORÇA


Já podemos perceber como nossa vida vai depender da presença das virtudes em nossa alma. A vida do católico deve ser um exemplo de fidelidade à lei de Deus, aos seus mandamentos, à natureza humana, com todas as suas riquezas, mas também com todas as suas exigências. Muitas vezes parecerá difícil a realização dos nossos deveres para com Deus, para consigo mesmo e para com o próximo. Para que nós tivéssemos mais ânimo neste combate do dia a dia, Deus Nosso Senhor nos deu a virtude da Força.

A Força é a virtude que dá à nossa vontade a energia necessária para vencer os obstáculos que nos atrapalham na prática do bem.  Devemos resistir, quer dizer, permanecer firmes na Fé, apesar dos ataques dos nossos inimigos e das nossas fraquezas pessoais. Devemos agir; ter Força é manifestar espírito de iniciativa, alegria na realização do dever de estado, perseverança no combate contra nossas paixões: o orgulho, o egoísmo, a raiva, a sensualidade, etc.Praticando os atos da virtude de Força, conseguiremos, com a graça de Deus, vencer as tentações, fugir dos pecados e das ocasiões de pecado que nos chamam com tanta força para o mal.

Vejamos alguns exemplos:

Na hora de estudar, sentimos aquela vontade de ir ver televisão... Sem a virtude da Força, cederemos à tentação e faltaremos ao nosso dever de estudar. Na escola, uma amiga ou um amigo virá nos mostrar uma revista cheia de figuras indecentes... A virtude da Força nos ajudará a não querer olhar. A toda hora precisamos dela: para trabalhar, para rezar com devoção e piedade, para estudar, para ajudar ao próximo, etc.

Os pecados contra a Força

Os pecados e vícios contra a virtude da Força se manifestam em nós do seguinte modo:
Acanhamento ou pusilanimidade - quando a pessoa não se decide a fazer o que deve, fica sempre na dúvida: é certo ou errado, devo fazer assim ou de outro modo, e acaba não fazendo o que deve.

Covardia - quando a pessoa foge da sua obrigação por medo.

Respeito humano - é uma espécie de covardia que nos leva a não agir corretamente por medo das zombarias.

Temeridade - quando uma pessoa se expõe sem necessidade ao perigo e à morte (falsa coragem).


A TEMPERANÇA


A virtude da Temperança vem completar o quadro das quatro virtudes cardeais. Ela é o freio da nossa alma.

A temperança é a virtude pela qual usamos com moderação dos bens temporais, quer eles sejam comida, bebida, sono, diversão, sexo, conforto, etc. Ela nos ensina a usar essas coisas na hora certa, no tempo certo, na quantidade adequada. Ela nos ensina que certos atos são reservados a certas situações.  

[Nos anos 60, os homens enlouquecidos entregaram-se a todos os tipos de pecado. Diziam que estavam quebrando o que eles chamavam de tabu do sexo. De lá para cá, as pessoas que queriam continuar obedecendo a lei de Deus, viram-se ameaçadas de todo tipo de repressão e de ameaças. Os costumes foram se degradando pouco a pouco. Hoje, já não há mais quem tenha noção dos critérios de avaliação dessas coisas. Dizer que existe uma lei natural, que essa lei natural foi explicitada por Deus nos Dez Mandamentos e confirmadas pela Igreja é expor-se ao ridículo. O que devemos concluir? Que eles criaram o tabu deles. O sexo nunca foi tabu para a Igreja, sempre foi visto em toda sua grandeza e também em seus pecados. Eles é que fizeram um tabu. Ai daquele que não fizer o que eles fazem! Ai daquele que não defender o nudismo e a pretensa liberdade de serem pornográficos. Só não me venham dizer que isso que eles criaram é próprio ao homem, que é elevado, que é marca de civilização, que é sinal de inteligência. Esse tabu que eles criaram é um instrumento de corrupção, de repressão, é puro fanatismo. Que eles tenham conseguido alcançar seu objetivo, muito bem, concedo; mas que um católico tenha de admitir essa situação e viver como se tudo isso fosse normal, e aceitar que suas filhas e filhos participem disso, isso eu não aceito. E deixo aqui, como que um grito de alerta: tirem seus filhos desse ambiente de puro liberalismo moral, das modas absurdamente indecentes, das praias onde não se pode levar uma criança sem provocar nela o pecado, dos namoros "sexualizados". Tudo isso é pecado grave contra Deus Nosso Senhor. É a marca da falta de amor por Deus e pelo Sangue de Cristo derramado na Cruz. E se vocês acharem que exagero, que o mundo mudou, que é preciso ser aberto, então só me resta dizer: esperem e veremos quem tinha razão. Na hora do juízo final, veremos todos eles correndo para dizer que amam a Deus, jurando que sempre O amaram, que ninguém lhes avisou que era tudo pecado.... Mas, então, será tarde demais.]

A Temperança nos ajudará a vencer os maus pensamentos e maus desejos, ajudará um casal a nunca trair o sacramento do matrimônio pelo adultério, etc. Todos esses maus pensamentos e maus desejos e ocasiões de pecado devem ser combatidos imediatamente, sem perda de tempo, com muita coragem e força, para que não se tornem pecados mortais.  Na verdade, todas as quatro virtudes teologais se unem no combate da alma para praticar os Mandamentos de Deus.

É pecado um adulto beber cerveja? Não, desde que seja com moderação, nunca se permitindo perder o controle de si mesmo. Quando o homem bebe vinho ou cerveja, ele quer saborear um produto, sentir o seu gosto. No excesso, é como alguém que só bebesse para ficar embriagado. É um pecado grave, portanto, experimentar qualquer tipo de droga ou fumo, ou bebida que altere a consciência de si mesmo.

Também o conforto da vida moderna pode nos levar a pecar contra a Temperança. Reclamamos do calor, reclamamos do frio, não queremos nos levantar da cadeira nem para pegar um copo d'água, sempre achamos algo que nos desagrada nas coisas e nas pessoas. A virtude da Temperança nos ajuda a esquecer um pouco tudo isso e pensar mais em ajudar, em trabalhar, em vencer seus próprios defeitos.

Para completar, devemos nos lembrar que sem a graça de Deus não há virtudes sobrenaturais na nossa alma. Devemos praticar as virtudes, mas lembrar sempre que é pelo amor de Deus, e que sua graça santificante é a maior recompensa que podemos ter, pois ela nos permite receber a Jesus no nosso coração, na comunhão, e, assim, fortificar nossa almas para o combate da vida.

OS SETE PECADOS CAPITAIS


OS 7 PECADOS CAPITAIS
A. Boulenger
(Doutrina Católica – Manual de Instrução Religiosa – Moral)
Vocábulos
1º. Pecados capitais. 1º. O termo pecado tem, nesta lição, duplo sentido. Significa:

a) vício
, quando se consideram a soberba, a avareza, a luxúria, etc., como maus hábitos que levam ao pecado;

b) pecado atual, quando se trata de um ato transitório, seja ele causado por uma disposição habitual ou não. Assim muitos cometerão o pecado de orgulho, sem ter o vício de soberba.

2º. Capitais (do latim "caput": cabeça, fonte). De acordo com a própria etimologia da palavra, esses pecados tem tal nome:

a) porque podem ser pecados gravíssimos, dignos da pena de morte;

b) porque, nos primeiros séculos da Igreja, eram equiparados a outros muito graves, como a idolatria, o homicídio, o adultério, e condenados a uma penitência pública;

c) porque são origem, fonte de vários outros, ainda que não sejam necessariamente e sempre, pecados mortais.

PECADOS CAPITAIS
Há sete pecados, ou vícios, que podem ser tidos como graves, quer quanto à sua natureza, quer quanto às suas conseqüências. Estes sete pecados capitais são:

1) Soberba;
2) Avareza;
3) Luxúria;
4) Inveja;
5) Gula;
6) Ira;
7) Preguiça. 


Alguns: soberba, avareza, inveja, ira e preguiça, quando desídia do intelecto, são mais especialmente pecados do espírito. A luxúria e a gula, pelo contrário, são pecados do corpo.

1. SOBERBA

1º. Natureza. Soberba é a estima excessiva da própria pessoa. Manifesta-se principalmente de três maneiras:
a) o soberbo mostra-se ufano das qualidades que tem, não se lembra que deve por elas dar glória a Deus: "Que tens tu, diz São Paulo, sem o teres recebido? E se o recebeste, como é que te glorias, como se aquilo fosse teu?" (I Cor IV, 7);
b) atribui-se dotes que não possui;
c)rebaixa as vantagens dos outros. É parecido com o fariseu que coteja suas virtudes com os senões do próximo.
2º. Derivadas da soberba. A soberba produz a ambição, a presunção, e a vanglória.
A. Ambição é o desejo descomedido de glória, honras, fortuna, poder, etc. o ambicioso anda atrás das posições de destaque e das dignidades. "Apreciam o primeiro lugar nos banquetes, os assentos mais elevados nas sinagogas" (Mt XXIII, 6) diz Nosso Senhor, falando dos Escribas e dos Fariseus.
B. Presunção é a demasiada confiança em si próprio. Presunção e ambição não raro andam a par. O presunçoso exagera seus talentos, julga-se preparadíssimo para qualquer encargo. E trata de meter-se em negócios e empregos altos, para os quais lhe falecem habilidades e competência.
C. Vanglória é a mania de se envaidecer por predicados, mais brilhantes e espalhafatosos, do que reais e sólidos; de colher louvores, e pasmar os circunstantes, quanto não há motivo para tanto. Este gaba-se de uma estirpe nobre, de linhagem ilustre; aquele é altaneiro por causa do palacete; este outro, é pela roupa, ou pelo automóvel. Esquecidos, todos, de que se houver glória nisso, não é a eles que deve ninbar (não quer dizer que todo luxo é soberba e impostura. Não é, quando fica em relação natural com a posição que se ocupa na sociedade. Então, justifica-se no ponto de vista hierárquico e econômico. Quem não atendesse às exigências da fortuna que possui cairia no excesso oposto que entra no segundo pecado capital [avareza]).
A vanglória, por sua vez, gera:
a) a jactância. A jactância, a bazófia, ou gabolice está doida pelos elogios. Baba-se por eles, suplica-os. E quando não os consegue logo, vai-se, o sujeito, encomiando a si mesmo. Nas palestras, não deixa os outros falar. Só ele, só dele. Não aprecia os companheiros, nem se importa com eles, e por isso, conta, o que fez e não fez, mandou e desmandou, suas boas obras, virtudes, esmolas (em dois casos é permitido dar a conhecer o bem que se obrou: a) para livrar-se de censura imerecida; b) para instruir e edificar o próximo, como o pratica São Paulo na Epístola aos Gálatas);
b) a hipocrisia é outro fruto espúrio da vanglória. As felicitações que os gabolas se outorgam nos seus alardes palavrosos, o hipócrita quer granjeá-las por seus atos fiteiros, e suas virtudes de aparato. Anda deslembrado dos conselhos de Nosso Senhor: "Tende cuidado em não fazer vossas boas obras para serdes vistos pelos homens ... quando dais esmola, não toqueis trombeta, como costumam os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para que vos honrem os homens' (Mt VI, 1,2);
citemos, ainda, o aferro, a obstinação, a teimosia, três vocábulos mais ou menos sinônimos, exprimindo o apego que se tem ao próprio parecer, não querendo que vingue a opinião dos outros, nem até quando a razão está com eles.
3º. Malícia da soberba. É pecado grave, quando o orgulho quer elevar-se acima de Deus e dos superiores. É tido como fonte de todos os males.
4º. Remédios. Os meios para curar a chaga do orgulho são:
a) um exame atento, demorado, sincero, das nossas misérias, das nossas falhas e fraquezas; da inconsistência dessas coisas que nos envaidecem;
b) a contemplação da humildade de Nosso Senhor, que, sendo Deus, se rebaixou a ponto de revestir-se da humanidade, e sujeitar-se a todas as contingências mais triviais e vis da nossa natureza; depois, a todos os ultrajes.

2. AVAREZA


1º. Natureza. Avareza é o amor desregrado às riquezas. Assume duas modalidades:

a) É avarento o que anda aflito por ganhar mais dinheiro, sempre excogita artes de aumentar seus cabedais, e antes trata os bens como donos do que como servos. A fortuna, para ele, é um fim, e não o meio de prover às necessidades da existência.

b) É avarento mais encontradiço, o que está afeiçoado a seus tesouros. Sovina. Não dá nada. E quando precisa gastar, parece que lhe arrancam um pedaço da alma. A economia é outra coisa. Consiste em regular as despesas pelos rendimentos,: aquelas não excedendo estes. Não é vício. É virtude preciosa, estímulo do trabalho, e mãe da prosperidade. A avareza tanto se aninha no coração do pobre, como no do rico. Avulta, não raro, com a idade. Recrudesce com a velhice.

2º. Efeitos. Da avareza nascem:
a) a injustiça para com o próximo: fraudes, trapaças, roubos;
b) a traição: Judas vendeu seu Mestre por trinta moedas;
c) o empedernimento do coração para com os indigentes. O avarento não se compadece da miséria: nunca abre a mão para obsequiar, para dar esmola aos pobres.

3º. Malícia. A avareza pode vir a ser pecado grave:
a) contra Deus: o avarento prefere, com efeito, a tudo, o dinheiro. Adora o ouro. É seu ídolo. Deus não existe mais para ele.
b) contra o próximo: o avarento, certo é que não cumpre o dever de caridade. E este dever, em determinados casos, constitui obrigação imperiosa.

4º. Remédios. Dois remédios podem fazer bem ao avarento:
a) lembre-se amiúde que tudo passa neste mundo; que são perecedouros, frágeis, e de pouquíssimo valor, os bens da terra. Caducam rapidamente. Única riqueza de verdade é amar a Deus.
b) medite nos exemplos de Jesus Cristo. Era riquíssimo, quis nascer, viver e morrer, paupérrimo.


3. LUXÚRIA


Luxúria, ou lascívia, é o vício contrário à pureza, proibido pelo 6º e 9º Mandamentos da Lei de Deus.

I. A pureza. 6º e 9º Mandamentos

1º. Excelência da virtude da pureza. A castidade, ou pureza, consiste na abstenção dos prazeres carnais ilícitos. Nenhuma virtude tem mais valor do que a castidade, porque ela, melhor que as outras, é o domínio do espírito sobre a carne, da alma sobre o corpo. Por isso, não é de estranhar que esta virtude, preceito ou lei natural muito embora, fique sendo como que apanágio e monopólio da religião católica. É a pura verdade afirmar que não a conheceu o mundo pagão, e que, hoje em dia, desabrocha e viceja apenas no ambiente do Catolicismo.

2º. Objeto do 6º e 9º Mandamentos. O 6º e 9º Mandamentos da Lei de Deus proíbem os pecados de luxúria, contrários à virtude da pureza. Única diferença entre os dois, é que o 9º, repetindo o 6º, vai além, reforça a proibição, abarcando a mais os maus pensamentos e maus desejos. Assim, enquanto o 6º Mandamento veda atos, olhares e palavras ofensivas da modéstia cristã, o 9º atalha o mal na própria fonte, e condena o simples pensamento impuro, o simples desejo desonesto: de um lado, pois, os atos exteriores, e do outro, os atos interiores, como sendo, estes, causa daqueles, e comparáveis à fagulha que ateia o incêndio. Na explanação desta matéria, andaremos lembrados, de contínuo, dos prudentes avisos de Santo Afonso de Ligório e São Francisco de Sales, concordes nisso, e ambos com São Paulo, dizendo que não é bom, tocar em termos muito explícitos nestes assuntos, e que já se ofende a castidade, só com o nomear a impureza.

II. O que é proibido pelo sexto Mandamento da Lei de Deus.

O 6º Mandamento da Lei de Deus proíbe:

1º. As más ações. Há certas coisas indecentes que o menino não se atreveria a praticar à vista de seus pais ou de seus mestres, e que desonram e envergonham os autores, quando essas coisas vêm a ser conhecidas. Ora, aquilo, ainda que fique ignorado dos homens, não está escondido aos olhos de Deus. Logo, é pecado mortal por natureza. Sempre. Esteja, o culpado, só, ou na companhia de outras pessoas. Entretanto, a malícia varia segundo a qualidade destas pessoas e segundo as coisas más que se fazem.

2º. Maus olhares. Consistem em demorar a vista, por gosto e sem necessidade, nos objetos ou nas pessoas que podem excitar as paixões: por exemplo, estátuas, imagens ou pessoas que não têm a devida decência.

3º. Escritos e palavras desonestas. Quer dizer, qualquer escrito (maus livros e maus jornais), qualquer palavra (cantigas ou conversas despudoradas) que ofendem o recato, ou abertamente, às escâncaras, ou disfarçadamente, por meio de equívocos, ambigüidades, reticências. Nada mais prejudicial do que as más leituras. Quanto às más conversas, afirma São Paulo (I Cor XV, 33) "que corrompem os bons costumes".

III. O que proíbe o 9º Mandamento

O 9º Mandamento proíbe:

1º. Os maus pensamentos. O pecado de pensamento, que os teólogos, chamam de "deleitação morosa", consiste em se demorar, voluntariamente, na imaginação de uma coisa ruim, sem querer mesmo chegar à prática da mesma. Tal deleitação, ou gozo, é chamada morosa, do vocábulo latim "mora" atraso, diz Santo Tomás, porque a razão, em lugar de repelir sem tardança, como fôra de mister, as cogitações impuras que se apresentam, se demora nelas (immoratur), as acolhe com agrado, e nelas se compraz livremente (por aí se vê que vai grande diferença entre "deleitação morosa" e "sugestão má". Esta independe da vontade. É uma tentação, nem mais nem menos). Quem se entregou à deleitação morosa tem que declarar na confissão, a natureza específica deste pensamento; por exemplo, se tem voto de castidade, ou se as cogitações diziam respeito a uma parenta, ou a uma pessoa casada. É pecado mortal, quando a coisa é mesmo ruim, e o consentimento pleno. Do contrário, é venial. E não há pecado nenhum, quando se combate e se afugenta a representação do mal, e se reprova.

2º. Os maus desejos. O desejo é mais do que o pensamento, porque, com a imaginação do ato mau, está a intenção e vontade de praticá-lo. Perante Deus, é a mesmíssima coisa: querer ver, ouvir ou fazer, coisas impudicas, e ver, ouvir, ou fazer. Agora os desejos desonestos são como os pensamentos: culpados, exatamente na proporção em que são voluntários.

IV. Gravidade dos atos contra a pureza.

É facílimo avaliar a gravidade dos atos contra a pureza, pela meditação das conseqüências desastradas que acarretam na alma e no corpo:

a) Na alma. Nublam, entenebrecem, e materializam, a inteligência. Cegam-na para as coisas de Deus (I Cor II, 14). Desmoralizam e embrutecem o coração que, então, se separa e afasta de Deus, abandona a religião, cai na impiedade.

b) No corpo. A impureza estraga a saúde, exaure as forças, traz as doenças mais repugnantes e vergonhosas, as enfermidade mais asquerosas, e não raro, fim prematuro. Portanto, são mortais, geralmente, os pecados de impureza, a não ser que a irreflexão diminua esta gravidade.

V. Causas que levam à impureza.

As causas determinantes de pecados contra a castidade podem se classificar em: exteriores e interiores.

1º. Causas exteriores. São as que deparamos fora do nosso espírito viciado e do nosso coração corrupto pelo pecado original:

a) As más leituras. Esta rubrica geral abrange os livros ímpios, licenciosos, jornal ruim, revista ruim, e em especial, folhetins e romances que pintam ou encarecem o vício: denominam-se realistas ou naturalistas, e o que querem, é estadear o crime em todos seus pormenores, toda a hediondez, sem rebuços; ou denominam-se psicológicos, pretendendo escalpelar as almas com seus sentimentos mais abjetos, em todos seus refolhos. Uns e outros provocam desgraças. Não há iludir ou anestesiar a consciência. Ninguém se imuniza contra este tóxico violento, traiçoeiro e fatal. Dirão que procuram unicamente as belezas literárias, o encanto das descrições, a magia do estilo. É verdade. Isca fementida. Engodo. Procura-se tudo isso, e encontra-se mais alguma coisa: o veneno, que a alma engole por doses pequenas ou grandes, e que mata. Não se hão de perlustrar pântanos lodosos e pestilenciais sem apanhar pingos de lama. É absurdo. E será mesmo tão minguada a nossa literatura, que só nesses charcos se poderão descobrir modelos de estilo, de bela dição, de alta cultura clássica?

b) Espetáculos. Teatros e cinemas não são maus por índole, por natureza, é claro. Haveriam mesmo de aformosear a alma, educar a vontade, e nobilitar o coração. Infelizmente, sucede quase sempre o contrário. E passam a ser verdadeiras escolas do crime e da imoralidade. Glorificação do vício, apoteose e triunfo da impureza, e menosprezo ou escárnio da virtude, isto é que é. Alexandre Dumas o disse alto e bom som: a mãe prudente não assiste aos espetáculos, e muito menos levaria aí sua filha.

c) Dança e baile. Sendo exercício corporal, a dança é ginástica nada reprovável. A Bíblia refere, em muitas passagens, sem nota alguma pejorativa, as danças praticadas pelas moças e senhoras de Israel, para divertimento (Juízes XXI, 21, 23; Jerem. XXXI, 4,13) antes religioso, manifestação de piedade, do que mundano. A filha de Jefté vai ao encontro do pai, e vai dançando com uma porção de companheiras (Juízes XI, 34). Quando Davi, vencedor de Golias, regressa triunfante, as mulheres de Israel o ovacionam e celebram, com danças, a glória dele (Reis XVIII, 6, 7; XXI, 11). Davi ia dançando diante da Arca da Aliança, que ele mandava recolher, com inaudita pompa (II Reis VI, 5). Nota-se, entretanto, que, as mais das vezes, dançavam, as jovens, sozinhas, separadas dos moços (Ex XV, 20; I Samuel XVIII, 6).

A dança moderna, conhecida por nomes variadíssimos, é outra coisa. Altamente condenável, por causa da liberdade infrene que nela reina, dos encontros que ali se realizam. Excetuando determinadas reuniões de família, a regra geral é que não se deve dançar. Muito menos ainda, se hão de freqüentar bailes públicos, ou bailes mascarados, que são os mais perigosos. Em que conta teremos os tais bailes de caridade? São organizados para angariar donativos, para aliviar os desamparados, ou as vítimas de alguma calamidade: inundação, seca, incêndio, etc.; motivo de beneficiência. Ora, para saber o que vale este sistema, examinemos o caso. Será, um baile, mais puro e menos arriscado, porque o fim é a esmola? Que tem uma coisa com outra? Onde é que se viu alterada a essência de uma coisa porque se lhe mudou o destino?

d) Reuniões mundanas e más companhias. "Dize-me com quem andas, que te direi quem és". A freqüentação, os passeios, as amizades, ou familiaridade com pessoas levianas, frívolas, em busca de passatempos quaisquer, e que gastam o dia no ócio e na moleza, são também causas de muitos pecados de impureza.

e) Modas desonestas. Nos trajes femininos, a moda apresenta, por vezes, excentricidades que constituem verdadeiro desafio e insulto ao bom gosto e ao pudor. Tais modas são reprovadas pela religião, pela moral, e até pelo senso comum.

2º. Causas interiores. As causas provenientes de nós mesmos são:

a) Orgulho. Deus não ama os que "se ensoberbecem nos seus juízos", desampara-os, e deixa-os "entregues a paixões de ignomínia" (Rm I, 21,26).

 
b) Intemperança. "Não vos embebedeis com vinho, diz São Paulo, isto é, fonte de devassidão: mas inebriai-vos do Espírito Santo" (Ef V, 18). Quem anda atrás dos deleites dos festins, dá a mão às tentações da carne e da concupiscência.

 
c) Ócio. A preguiça é mãe de todos os vícios, e São Jerônimo afirma, desassombrado que, se está um demônio solicitando ao mal o homem que trabalha, estão mais de cem demônios tentando o que está desocupado.

VI. Remédios contra a impureza.

1º. Meios naturais.

a) é preciso lembrar, primeiro, a fuga das ocasiões que podem levar ao pecado, quer dizer, a supressão, de vez, de todas as causas acima mencionadas.

A ocasião se diz remota ou próxima.

a) Ocasião remota é a que conduz, de modo muito indireto, até a ofensa a Deus. Tais ocasiões enxameiam pelo mundo, não há como evitá-las sempre, porque se alastram por todas parte. A melhor boa vontade não o conseguiria. Fugir delas não constitui obrigação.

b) Ocasião próxima é a que provoca a tal ponto que é quase certo cometermos o pecado, se ela não for removida. (1) A ocasião próxima será necessária de necessidade física ou moral: necessidade física, quando é de todo impossível suprimi-la; necessidade moral, quando a dificuldade é grande. Em ambos estes casos, é preciso lançar mão de todos os preservativos e orações, recepção dos Sacramentos da Penitência e Eucaristia. Renovar, amiúde, o propósito de nunca mais pecar. (2) Ou a ocasião próxima pode ser afastada, e então, há obrigação imperiosa de removê-la. É condição "sine qua non" para obter a absolvição. A Igreja impõe esta regra, porque conhece o que diz a Sagrada Escritura: "Quem ama o perigo, há de cair no abismo" (Ecl. III, 24).

b) a vigilância é guarda dos sentidos, da imaginação e das afeições;
c) a humildade;
d) a mortificação;
e) o trabalho, são outros tantos meios naturais e auxiliares poderosos na luta pela pureza.

2º. Meios sobrenaturais. Com os meios naturais, é indispensável ainda, o emprego dos meios sobrenaturais. Os principais são:

a) Oração. Deus nada recusa a quem pede.
b) Confissão. Desvendar a chaga é curá-la.
c) Comunhão freqüente. A Eucaristia é o alimento da força.
d) Devoção a Maria Santíssima. Vendo perigo, a criancinha recolhe-se junto da mãe. Maria Santíssima é mãe de todos nós, e ela tanto estima a virtude de pureza, que protegerá seus devotos que lhe suplicam auxílios, que se recolhem pela prece, à sombra benéfica de sua égide maternal.


4. INVEJA


1º. Natureza. A inveja deriva-se da soberba. Consiste no regozijo pela desgraça que sucede ao próximo e no pesar pela boa sorte dele, como se a felicidade alheia perturbasse a nossa. Logo, a inveja tem duas caras: expandida e risonha perante o mal dos outros; amarrada e tristonha diante da prosperidade alheia.

O distintivo essencial da inveja é a falta de caridade. Portanto, não tem inveja:

1. quem se entristece porque vê que é feliz e passa bem uma pessoa que não o merece. Não é inveja, é "zelo desatinado" porque a repartição dos bens deste mundo é da conta exclusiva de Deus;

2. quem fica triste com a promoção de fulano, porque isto poderá causar transtornos; é "temor legítimo", se não ajuizado;

3. quem anda acabrunhado, porque outro ganhou o lugar que ele mesmo havia pleiteado por seus esforços; chama-se "brio, emulação".

Ciúme é uma face da inveja. Não se alegra com os reveses e dissabores alheios. Mas tem o receio exacerbado de perder o bem que possui, e cobiça violentamente o bem dos outros.

2º. Efeitos. Da inveja nascem a calúnia, a maledicência, a delação, as rivalidades, as discórdias, o ódio e até o homicídio.

3º. Malícia. A inveja ofende a caridade que devemos ao próximo. É tanto mais culpada quanto mais avultado fôr o dano que ela causar aos outros.

4º. Remédios.

a) primeiro meio para tratamento desta enfermidade moral é recordarmos que todos os homens tem igual natureza e igual destino. Não são irmãos em Cristo todos os católicos? E não são todos eles membros da mesma sociedade que é a Igreja?

b) segundo meio, é ponderarmos as conseqüências nefandas que formam o séquito da inveja.

 
5. A GULA.


1º. Natureza. Gula é o amor desordenado ao alimento. Quando se aplica de modo especial à bebida chama-se embriaguez, alcoolismo.

A. Considerada em geral, a gula manifesta-se de duas maneiras:

a) pelo excesso na quantidade. O guloso multiplica as refeições; come a torto e a direito; ou então come demais, ou muito depressa, avidamente;

b) por excessiva exigência na qualidade. Peca por gula o que procura iguarias finas, e requinta nos prazeres do paladar; e até, quem repisa, a toda hora, na conversa, esses tópicos.

B. Embriaguez é a forma mais torpe e repugnante da gula. Com efeito, quem cai neste vício até ficar bêbado, perde o uso da razão e resvala abaixo dos brutos.

C. Alcoolismo é a paixão dos excitantes, das bebidas fortes. O alcóolico não chega a embebedar-se; mas, em doses exageradas e múltiplas, ingurgita o temível veneno. Tornou-se hábito, necessidade fatal.

2º. Efeitos. A gula em geral provoca:

a) o abandono das obrigações religiosas;

b) a transgressão das leis do jejum e da abstinência;
O alcoolismo tem conseqüências ainda mais desastradas. Com efeito, o alcoolismo não é senão embriaguez no estado crônico:

a) no indivíduo viciado por este funestíssimo hábito, aparecem as doenças mais impiedosas (...) As faculdades intelectuais embotam-se gradualmente, e breve, a vítima acha-se como que bestificada. No ponto de vista moral destrói o pudor e os brios, deixando apenas a medrar os instintos da animalidade.

b) na família é fautor de anarquia. O alcóolico foge do lar; deixa no desamparo mulher e filhos. E se, porventura ainda trabalha, gasta com o vício tudo o que vai ganhando.

c) para a sociedade também o alcoolismo é um flagelo, um cancro. Nos países onde grassa, queima as veias de um povo inteiro, dessora e desfibra a raça mais profundamente do que a chacina das batalhas.

3º. Malícia.
O amor exagerado do comer e do beber não é, em si, pecado grave. Adquire, porém, este caráter, quando levado ao ponto de menosprezar e transgredir o preceito da penitência.
Com a embriaguez, o caso é outro. Quando acidental e involuntária, desculpa-se; mas se for propositada, é pecado mortal. Quanto às faltas cometidas pelo bêbado, ele é responsável no grau em que as previu: a culpabilidade não está no ato, está na causa.
Tanto mais culpado é o alcoolismo quanto mais lamentáveis são os estragos que produz.

4º. Remédios. Para sanar este defeito da gula são eficazes as seguinte receitas:

a) evitar tudo o que lisonjeia demais o paladar, como as iguarias saborosas e muito finas;

b) pensar que isto de comer e beber não é o fim da atividade humana. Existe o alimento para a vida, não a vida para o alimento.

c) os pais devem incutir no ânimo dos filhos o amor da temperança e sobretudo dar-lhes bons exemplos a respeito.

d) as donas de casa zelem por ter um lar confortável e atraente, que agrade às visitas, ao esposo e aos filhos, desviando-os da freqüentação de tabernas e botequins.


6. IRA


1º. Natureza. Ira é um movimento desordenado da alma que se revolta contra o que não lhe apraz. Muitas vezes, é o resultado do orgulho que se julga melindrado, e quer desforçar-se. Mas é também uma paixão proveniente da índole, e que a vontade custa a senhorear.
Nem sempre alcança, a ira, o mesmo grau de violência. Por isso distinguem-se:

a) a impaciência;
b) a raiva;
c) o arrebatamento, que se derrama em berros e desaforos;
d) o furor, que se traduz por insânias, acessos próximos da loucura;
e)a vingança, que é o desejo cultivado de prejudicar a quem nos desagradou.

Há certa cólera que não é pecado. Vem a ser, apenas, justa indignação, quando se manifesta dentro de limites razoáveis: na hora azada, contra quem a merece, e com intensidade prudente. Um pai de família se mostrará oportuna e eficazmente irritado com o comportamento mau do filho, e infligirá uma correção enérgica que produza frutos de emenda. Um superior de comunidade, no desempenho do seu cargo, castiga publicamente uma ofensa à regra. A cólera, então, não é vício, é virtude.

Na Sagrada Escritura, temos muitos fatos destes. Moisés, ao deparar com o bezerro de ouro, deixa-se arrebatar pelo furor da ira santa, e quebra as tábuas da Lei (Ex XXXII, 19). Deus, muitas vezes, ira-se contra os pecadores (Sl CV, 40). Nosso Senhor lança mão do chicote, e tange para fora, irado, os vendilhões do Templo (Mt XXI, 12). Zanga com os Fariseus, que andavam espiando, para ver se haveria de curar, em dia de Sábado, o enfermo com a mão ressequida (Mc III, 5). São cóleras santas que têm justificativa no fim almejado: debelar ou fustigar o mal, e emendar os pecadores.

2º. Efeitos. A ira gera as disputas, as quisílias, doestos e vitupérios, brados e invectivas, rancor, ódios, assassínios e demandas.

3º. Malícia. Quando a cólera provém da índole, do gênio, é culpa venial só, a não ser que se desmande em crises, e seja deliberada. Quando inclui o desejo desnorteado de vingança, ofende a justiça ou a caridade, e então é pecado grave.

4º. Remédios. Para amordaçar e refrear a cólera, é preciso:

a) atalhar logo o primeiro ímpeto;
b) lembrar-se do preceito do Senhor: "Amai vossos inimigos ... fazei o bem aos que vos odeiam" (MT V, 44);
c) meditar o exemplo do divino Mestre, Cordeiro manso e humilde de coração.


7. PREGUIÇA


1º. Natureza. Preguiça é o apego desmedido ao descanso que leva a omitir nossas obrigações, ou a descuidá-las. O espírito e o corpo do homem que trabalha necessitam de repouso. Mas, este não pode vir a ser regra geral, e com que o único fruto da existência.

Distinguem-se:
a) preguiça espiritual;
b) preguiça corporal.

Aquela é falta de ânimo, de coragem no cumprimento dos deveres religiosos, na oração. Esta é desleixo das nossas obrigações de estado.

2º. Efeitos. A preguiça faz ociosa a vida, e franqueia, a todas as tentações, os caminhos da alma. "A preguiça é a mãe de todos os vícios". A preguiça espiritual põe em perigo a salvação eterna, pois "cada um há de receber a própria remuneração, conforme o próprio trabalho" (I Cor III, 8).

3º. Malícia. É pecado grave, a preguiça, quando chega até o esquecimento de Deus e das nossas obrigações mais importantes.

4º. Remédios. Para extirpar a preguiça, reflita-se que o trabalho é lei universal imposta pelo Criador. Os ricos não são dispensados. Existe, para eles, o grande dever da caridade, que os manda trabalhar a fim de aliviar, mais eficazmente, a sorte dos pobres.